Pioneira em justiça, equidade, diversidade e inclusão na profissão da arquitetura, Tiffany Brown é a fundadora do 400 Forward, uma iniciativa que busca, inspira e orienta a próxima geração de mulheres arquitetas. Nomeado à luz do licenciamento da 400ª arquiteta afro-americana em 2017, o programa visa familiarizar as meninas com a arquitetura, fornecendo-lhes ferramentas para lidar com questões de injustiça social.
Impulsionando a presença de mulheres afro-americanas na profissão da arquitetura – atualmente menos de 0,3% nos EUA – 400 Forward também oferece bolsas e material de estudo para exames de licenciamento em arquitetura para mulheres afro-americanas. Para saber mais sobre a iniciativa, o ArchDaily teve a oportunidade de conversar com a fundadora Tiffany Brown sobre o programa, a diversidade no campo e o empoderamento das arquitetas e estudantes.
ArchDaily (Christele Harrouk): Qual foi a necessidade inicial que levou à concepção do 400 Forward? Qual é o propósito e a missão dessa iniciativa?
Tiffany Brown (TB): Em 2017, percebi que a 400ª mulher afro-americana se tornou licenciada, e foi assim que surgiu o nome 400 Forward. Isso não é um marco apenas nos últimos 5, 15 ou 25 anos, mas na história. Isso significa que as mulheres afro-americanas representam 0,3% dos arquitetos licenciados. Com esta iniciativa, procurarei chegar aos próximos 400 com um foco subjacente nas meninas afro-americanas. O objetivo desta iniciativa é conscientizar sobre esses números, e a missão do 400 Forward é apoiar as meninas, dando-lhes as ferramentas necessárias para lidar com questões sociais criadas pelos ambientes construídos de maneira injusta em nossas comunidades.
AD: Como essa iniciativa está contribuindo para o empoderamento de arquitetas e estudantes do sexo feminino? Quais são os programas que você está apresentando?
TB: 400 Forward está contribuindo para o empoderamento de arquitetas e estudantes do sexo feminino por meio de orientação, programação inovadora e apoio financeiro. O 400 Forward foi lançado após ganhar uma doação de US $ 50.000 da John S. e James L. Knight Foundation. Os programas, suporte e bolsas de estudos de vários níveis fornecidos pelo 400 FORWARD têm como objetivo posicionar as jovens de Detroit para desenvolver seus talentos e aumentar a presença de mulheres afro-americanas na profissão de arquitetura através da incorporação da excelência artística.
AD: O que o futuro reserva para a iniciativa 400 Forward?
TB: Eu imagino que o 400 Forward se torne uma iniciativa com embaixadoras, mentoras e parcerias em todo o mundo comprometidas com justiça, equidade, diversidade e inclusão na arquitetura e no planejamento urbano. Uma rede de mulheres na liderança, certificando-se de que a profissão reflita as comunidades que serve.
AD: Você pode nos apresentar uma breve introdução sobre você?
TB: Nascida e criada em Detroit, MI, onde ainda moro, sou pioneira em justiça, equidade, diversidade e inclusão na profissão de arquitetura. Sou educadora e oradora pública. Aumentar a conscientização sobre como a representação na arquitetura causa um impacto social significativo na prática, cultura e educação é o que impulsiona minha carreira. Minha especialidade deriva de experiências em primeira mão de abordar injustiças ambientais e questões sociais.
AD: Como você acha que sua posição influenciou as mulheres nesse setor?
TB: Acho que minha posição influenciou as mulheres incentivando-as a manter o foco em um objetivo, apesar de seus obstáculos, e sempre mostrar força em um campo dominado por homens. Vi minhas colegas chorando porque um homem gritou ou tentou desacreditá-las em uma reunião. Sempre se espera que sejamos emocionais ou até incompetentes, e nós estamos entrando em uma profissão na qual nossos colegas homens sentem que não pertencemos. Nós devemos nos apoiar. Eu me cerco de mulheres de grande sucesso, que estão em posições as quais aspiro estar.
A administração de obra é minha parte favorita da arquitetura e devido à minha experiência, além de dois mestrados, fui promovida a gerente de projetos. É importante para mim, nesta posição, fazer minha parte do desenvolvimento de mulheres na liderança, da mesma maneira que meus colegas fizeram por mim.
AD: Quais são suas maiores conquistas e momentos de maior orgulho?
TB: Minha maior conquista é superar barreiras sociais e financeiras extremas para chegar onde estou hoje. A arquitetura não era uma carreira provável para alguém como eu. Isso me levou a muitos momentos incríveis na minha vida, como estudar artes em Paris e supervisionar a construção no conjunto habitacional onde cresci. Ser capaz de fornecer assistência financeira à meninas com as mesmas experiências que tive se tornou minha paixão. Às vezes não consigo acreditar que essa seja minha vida.
Um dos meus momentos de maior orgulho foi quando testemunhei minha filha de 9 anos vencer um campeonato estadual de ginástica. É importante para mim garantir que ela tenha oportunidades que eu não tive quando criança. Eu não estava exposta à arquitetura até a 12ª série, mas Brynne conhece arquitetas e engenheiras pessoalmente. Os pontos fortes pessoais que ela exibe sempre me lembram qual é o meu propósito. Mais informações sobre minha jornada estão descritas em um documentário lançado recentemente "Design For All". Produzido em parceria com a Target e que agora está sendo transmitido no HULU.
AD: Como você acha que os arquitetos em todo o mundo devem promover a diversidade no campo de atuação? E como você prevê o futuro da arquitetura?
TB: O futuro da profissão está nas próprias empresas de arquitetura, que sabemos que são historicamente dominadas por homens brancos ricos. Atualmente, eles ocupam a maioria das funções de liderança e devem promover a diversidade, procurando e empregando uma força de trabalho diversificada e proporcionando oportunidades para as minorias liderarem, e não configurá-las para o fracasso como frequentemente vemos acontecer. Precisamos investir em programas como o 400 Forward agora, para não estarmos estagnados na mesma posição estatisticamente nos próximos 50 anos.
Ser intencional com esses esforços dará às empresas vantagens no setor e gerará uma maneira de atrair vozes inéditas nas conversas sobre arquitetura. Teremos equipes de projeto com uma gama mais ampla de habilidades para resolver problemas, e isso dará aos arquitetos a oportunidade de fazer mudanças duradouras nos bairros, cidades e no tecido social de nosso país.
AD: Considerações finais para as meninas que querem se aventurar neste campo?
TB: As lições que aprendi ao longo da minha carreira se tornaram os 7 pilares que as meninas que se aventuram neste campo devem se lembrar:
- Conheça a si mesma. Conhecer a si mesma é o começo da sabedoria. Aprenda a entender sua identidade. Você se sentirá mais forte e não se envolverá no que alguém pensa que você deveria estar fazendo. Agir com autoconhecimento a conduzirá ao seu chamado.
- Conheça o seu campo. Faça a pesquisas adequadas e entenda o que é preciso para chegar lá. Eu não conhecia os exames de licenciamento de arquitetura até meu terceiro ano na graduação. Continue aprendendo.
- Seja confiante. Isso é importante para além do local de trabalho e pode levar algum tempo e prática para chegar lá. Superar a dúvida leva a lugares que você nem imaginava.
- Seja profissional. Sempre. Especialmente quando confrontada com situações adversas. Integridade e autocontrole mostram alto grau de inteligência emocional.
- Esteja presente e ativa. Sente-se à mesa. Fisicamente e figurativamente. Participe da discussão. Você não chegará ao topo escondendo-se nas sombras.
- Nunca volte atrás. Sempre haverá alguém para lhe desafiar ou questionar suas habilidades. Certifique-se de manter o foco e a calma. Lembre-se do que você é capaz.
- Mostre que você é essencial. Faça de você uma profissional valiosa na equipe.